Revista Segurador Brasil

JUROS BAIXOS TRAZEM RARA OPORTUNIDADE DE CRESCIMENTO AO PAÍS

“Há uma oportunidade econômica muito rara no país: o juro baixo. Se as incertezas do endividamento forem resolvidas, arrisco a dizer que teremos o período mais extenso de juros nominais baixos da nossa história”, afirmou o sócio-diretor da consultoria financeira GPS, Paulo Miguel, durante a palestra “Brasil: perspectivas para o próximo governo e os desafios de longo prazo”. O evento, realizado na sede da Schalch Sociedade de Advogados, em São Paulo, foi promovido pela SWISSCAM, Câmara Suíça, com a presença de seus associados. “É uma honra para nós a SWISSCAM ter nos escolhido para realizar esse encontro”, disse a sócia da Schalch Sociedade de Advogados, Débora Schalch.

A começar pela expectativa de crescimento do PIB, inicialmente de 3% para este ano, Paulo Miguel reconheceu que o cenário mudou no primeiro trimestre, por causa da greve dos caminhoneiros, que acabou catalisando uma série de preocupações até então latentes. Depois, quando as eleições entraram em pauta, tudo ficou suspenso. “Hoje, a expectativa é de um crescimento de 1,5%”. As baixas taxas de juros e de inflação mostram um quadro que se revela uma vantagem muito grande no ciclo econômico atual. “Pela primeira vez em muito tempo, temos uma inflação bastante confortável. Se a questão das contas públicas for resolvida, existe a chance de quebrarmos a espinha dorsal da inflação de serviços e talvez convergir para uma situação mais próxima do que temos internacionalmente”.

Vários fatores tiveram impacto inflacionário ao longo do tempo, provocando, segundo Paulo Miguel, a segmentação do mercado de juros. Diferentemente dos dias atuais, em que há condições para que a inflação se mantenha baixa e, consequentemente, a taxa de juros também, por um período muito mais extenso do que o vivenciado em todos os ciclos econômicos, desde 1994.

Com alta taxa de desemprego no país, o subemprego ou a situação precária de emprego representam quase 27% do total da força de trabalho. Segundo o economista, o endividamento da família, também alto, tende a ter uma reversão, ao mesmo tempo em que haverá uma alavancagem industrial em função do crédito corporativo, da política de expansão do BNDES. “Ainda há problemas de rentabilidade, os custos financeiros ainda estão altos, mas o período mais crítico já ficou de certa forma para trás”.

Capitais

Por mais que haja especulação sobre o câmbio, há uma “sobra” de financiamentos que permite até uma saída de capitais sem pressionar muito a taxa de câmbio. “No período de ouro de acúmulo de reservas, chegamos a ter uma sobra de US$ 20 bilhões a US$ 30 bilhões por ano. Hoje, temos uma sobra nunca vista. Se a confiança voltar, teremos uma situação externa bastante confortável, que permite um ritmo de crescimento de retomada bastante acentuada, podendo elevar o PIB de 3% a 4%, em 2019 e 2020”.

Um dos principais gargalos é o déficit nominal (soma das receitas e despesas do Governo Federal), incluindo o pagamento de juros. “O déficit chegou a 10% do PIB, em 2015. Posteriormente, houve uma redução lenta, mas ainda há um movimento acelerado de dívida pública do governo. Para que de fato haja uma redução do déficit nominal é preciso fazer uma virada de 4% do PIB nas contas, o que significa mais ou menos R$ 250 bilhões em ajustes”.

O fato positivo, de acordo com Paulo Miguel, é que 2017 foi o melhor ano para o mercado de capitais, que já começa a responder à realidade de juros baixos. E defendeu que o ajuste fiscal é básico. “Condição necessária para perenizar a redução de juros e abrir uma oportunidade para o capital privado entrar no financiamento empresarial, especialmente na área de infraestrutura”.

Para Paulo Miguel, a Reforma da Previdência é fundamental, mas não apenas ela reduzirá o déficit público. O grande peso é a folha de pagamento do funcionalismo público. Um estudo encomendado ao Banco Mundial, intitulado “O ajuste justo”, revela que se salva 1,8% do PIB na previdência em um horizonte de dez anos. Porém, apenas os salários da força de trabalho no setor público no governo federal são 67% superiores em relação ao que se indexa na iniciativa privada para cargos e funções. “Uma diferença brutal”.

A boa notícia, afirmou ele, é que já foi diagnosticado que o excesso de privilégios nos serviços públicos e nos subsídios é muito maior que no passado. “O ajuste das contas públicas é necessário para perenizar o custo de capital baixo. O quanto essa agenda se manterá depende de quem vencer as eleições”. Para aumentar a produtividade, Paulo Miguel defende a reversão do formato atual de tributação. Em sua visão, a arrecadação deveria ser maior sobre a renda e a produtividade, a exemplo dos países que compõem a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), do que sobre impostos diretos.

“Nós temos uma tributação de dez serviços em transações financeiras (PIS, Cofins, ICMS etc.), tudo isso representa 51% do total da arrecadação e a parte de renda e propriedade representa 33%. Nos padrões da OCDE, o peso da arrecadação direta é muito menor, tem países em que esse percentual é de 25%, e o peso muito mais significativo é na tributação de renda. No Brasil há uma inversão, o que é um empecilho para o setor privado se desenvolver”.

Segundo ele, um ponto consensual entre os candidatos a presidente da República é caminhar para uma tributação maior sobre a renda, reduzindo o Imposto de Renda para pessoa jurídica. Para aumentar a produtividade, ele citou como condições a segurança jurídica e o pagamento de impostos. “As empresas gastam, em média, 2.600 horas para cumprir as suas obrigações tributárias”, expôs, defendendo a importância da Reforma Tributária.

Economia mundial

No cenário internacional, Paulo Miguel analisou que o crescimento da economia tem surpreendido positivamente, principalmente nos Estados Unidos. Sua expectativa é essa situação continue pelo menos até o próximo ano. Ele apontou que o risco é a inconsistência do governo de Donald Trump, em que o desemprego é muito baixo, mas com corte de impostos e aumento de gastos. Para os mercados, a consequência é a redução da liquidez mundial. No mercado financeiro, a perturbação mais adversa é o aumento do financiamento de juros nos Estados Unidos, que pode gerar impactos mais significativos. “Por isso, a urgência de ajustes no Brasil”.

Fonte: Prisma Comunicação Integrada /Marcia Alves

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