A Associação Brasileira de Gerência de Riscos (ABGR) provou uma vez mais porque a Expo ABGR e o XIV Seminário de Gestão de Riscos e Seguros se consagraram como o maior evento de gerenciamento de riscos da América Latina. Nos dias 16 e 17 de novembro, no Pró-Magno Centro de Eventos, em São Paulo, cerca de 4 mil pessoas marcaram presença, entre grandes players e tomadores de decisão do setor de risk management.
O tema central do seminário da entidade, “Open Insurance e ESG: os desafios da inovação e sustentabilidade para o risk management”, atraiu inúmeras pessoas que assistiram a um ciclo de palestras simultâneas. Vinte e um eixos temáticos abordaram questões relevantes como gestão de riscos, open insurance e inovações, sandbox e insurtech, ESG & sustentabilidade, transportes – logística e gerenciamento de riscos, entre outros.
Já a feira de negócios da ABGR reuniu expositores ligados a algumas das maiores empresas do segmento. Na ocasião, além da oferta de soluções inovadoras, houve intenso networking e concretização de negócios. Neste ambiente, compradores de seguros dialogaram com a cadeira produtiva e conheceram o leque diversificado de produtos disponíveis no mercado. A expo e o seminário foram realizados simultaneamente a outro evento – o CMS Financial Innovation.
“Ficamos muito felizes com a presença de grandes empresas e os patrocinadores que acreditaram no evento. Nossa missão é trazer o risk manager para dentro da ABGR”, ressaltou o presidente da entidade, Luiz Otavio Artilheiro. O diretor financeiro Wilnner Eduardo Silva, acrescentou: “O evento fomentou a troca de experiências entre seguradoras, resseguradoras, brokers, clientes e risk managers”. Na visão do secretário-geral, Thiago Amorim, a ABGR posicionou o profissional como “protagonista do mercado”. E a assessora do Conselho e Diretoria, Márcia Ribeiro, lembrou que um dos méritos do evento foi atrair a participação de diversos compradores de seguros.
ESG e sustentabilidade
“Que mundo iremos deixar para as nossas crianças nos próximos 30 anos”, questionou o director Risk Management da DHL, Guilherme Brochman, na palestra de abertura do seminário “ESG: Desafios, Gestão de Risco e Sustentabilidade”. Aliás, o tripé Environmental, Social and Corporate Governance (ou Ambiental, Social e Governança Corporativa – ASG, no português) pontuou a maioria dos painéis.
Segundo Brochman, a utilização de tecnologia nos combustíveis é uma preocupação das empresas para diminuir os lançamentos de dióxido de carbono na atmosfera. “A DHL estabeleceu a meta de reduzir emissões de gases de efeito estufa até 2030”, alinhada com o Acordo de Paris por meio da iniciativa Science-Based Targets (SBTi) e investindo 7 bilhões de euros adicionais globalmente para atingir o objetivo”, revelou.
O debate sobre a agenda ESG continuou na palestra seguinte. “Queremos ver toda a economia brasileira focada nesta agenda”, conclamou o diretor da Superintendência de Seguros Privados (Susep), José Nagano. O vice-presidente da Federação Nacional das Empresas de Resseguros (Fenaber), Fred Knapp, disse que as resseguradoras devem trazer novas tecnologias para aplicar no mercado local. Ele sugeriu que compradores de seguro, corretores e resseguradoras utilizem parte de seu orçamento, ou seja, um determinado percentual na compensação de carbono.
Na terceira palestra, Nathalia Abreu (Zurich Brasil Seguros) defendeu ações integradas das empresas com a sustentabilidade, trabalhando toda a cadeia de produtos nessa direção. Thomas Fabelo (Aon) reforçou o propósito fixado pela DHL: “Na agenda global, será neutralizado 100% do carbono até 2030”. Mas Daniela Cavalcante Pedroza (Ambipar VG) fez uma ressalva: “ESG é um assunto que nem todas as organizações entendem”. Fátima Lima (Mapfre Seguros) ressaltou o compromisso da companhia: “Trabalhamos na redução de carbono e energia limpa. Temos grandes compromissos globais assumidos na transição para a economia de baixo carbono, subscrevendo risco”, comentou.
“Diversidade & Inclusão na Pauta de ESG” trouxe o depoimento de algumas das principais protagonistas femininas do setor, como a presidente e fundadora da Sou Segura, Simone Vizani. “Nossas ações impactam positivamente na sociedade. Damos voz, movimento e visibilidade para as mulheres”, declarou. “Queremos contratar e formar líderes que não sejam impositivos. Essas lideranças devem ter mindset”, apontou Stephanie Zaicman (Wiz Soluções). Na ótica de Edna Vasselo Goldoni, presidente e fundadora do Instituto Vasselo Goldoni, a entidade crê no poder transformador da mulher e na equidade de gênero. “Entendo que as melhores, hoje, sabem o querem e qual direção tomar”, observou a mediadora Márcia Ribeiro (ABGR).
Sandbox, insurtech e cyber risk
Temas da ordem do dia do mercado, sandbox, insurtech e cyber risk sugeriram debates interessantes sobre inovação. Para Nikolaus Maack (Mapfre Seguros), as insurtechs devem transformar a vida das pessoas e tornar ações e procedimentos mais simples. “O mercado de seguros é colaborativo e isto tem a ver com a natureza das startups. A Susep permitiu a entrada de novos players e flexibilizou o mercado”, reforçou Luiz Gustavo Ferreira Galrão (Latú Seguros). Barbara Possignoto (Pier Seguradora) lembrou que existe espaço para o gestor de risco num ambiente de inovação, pois ele garante a eficiência das medidas adotadas pelas empresas.
Sobre cyber risk e LGPD, Marta Schuh (Marsh), Marco Mendes (Aon) e Eduardo Bezerra (Wiz) relataram suas experiências, com ênfase nas melhores práticas no dia a dia das empresas. Na opinião de Marta, a contratação de seguro cyber deve estar acompanhada de medidas de compliance. E citou um dado: “Oitenta por cento das empresas pagam resgate de sequestros a hackers. Pagar resgates não é a melhor opção. Isso precisa ser mais bem discutido”.
Agro e ambiental
O agronegócio e o meio ambiente foram debatidos em painel específico com alguns dos especialistas do setor. “Há alguns desafios para o seguro agrícola. Na safra 2021/2022, o café e a cana na região centro-sul foram castigados por catástrofes climáticas, como as geadas. A expectativa no futuro é o seguro garantir a reposição das perdas e das modalidades de negócios envolvidas”, opinou Glaucio Toyama (Swiss Re).
Na visão de Talita Ferrari (Wiz), o agronegócio é um segmento muito importante para o País, exposto ao principal risco: “o clima não gerenciável”. Citou os históricos gargalos na infraestrutura (transporte de alimentos) e a necessidade das empresas se adequarem à agricultura de baixo carbono, cumprindo metas de ESG. Paulo Vitor Rodrigues (Aon) destacou o fenômeno do crescimento de startups (agrotechs) que atuam no seguro agrícola, mas advertiu que 32% da produção de alimentos é desperdiçada na cadeia de transporte.
Daniel Asseituno (AXA Seguros), por sua vez, lamentou: “O produtor ainda enxerga o seguro agrícola como um custo. Eu defendo que seja mais competitivo – uma garantia adicional à operação de financiamento”. Pouco difundido no Brasil, o seguro paramétrico foi lembrado pelos painelistas. O seguro protege as culturas contra distúrbios climáticos, sem estar atrelado à produção propriamente dita. Paulo Vitor sugeriu que essa modalidade de proteção seja construída em torno de um índice passível de ser monitorado remotamente.
Transportes e GR
Diego Gomes (Chubb Seguros), Sérgio Caron (Marsh), Rodolfo Albuquerque Alves (Liberty Seguros) e Denis Teixeira (Alper) compuseram o painel “Transportes, Logística e Gerenciamento de Riscos”. Segundo dados da Confederação Nacional do Transporte (CNT), mais de 60% das cargas em circulação no País são conduzidas pelas rodovias. O Brasil possui uma frota de 2 milhões de caminhões, sendo 60% transportados por motoristas autônomos.
Os painelistas foram unânimes em considerar que o gerenciamento de risco é uma ação fundamental no processo de gestão de risco de uma apólice de Transportes. As companhias precisam sempre investir em desenvolvimento tecnológico e capacitação dos profissionais para o bom cumprimento das operações. Os clientes devem dispor de análises técnicas e detalhadas com recomendações preparadas por especialistas.
Por Carlos Alberto Pacheco – ABGR