CNseg lança solução Conformidade Socioambiental para o Seguro Rural

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Nova solução integra o Hub de Inteligência Climática e reforça segurança e transparência nas decisões de gestão de risco do seguro rural

Uma nova solução tecnológica da CNseg promete ampliar a segurança, a transparência e a eficiência das decisões de gestão de risco das seguradoras que operam com o Seguro Rural. A solução Conformidade Socioambiental foi lançada oficialmente durante o Fórum Seguros e Agronegócios na COP30, em Belém (PA), na Casa do Seguro.

Integrada ao Hub de Inteligência Climática da CNseg, a ferramenta foi criada para apoiar as seguradoras na avaliação de conformidade socioambiental dos solicitantes de seguro rural, com base em legislação, regulação e critérios voluntários. O sistema cruza dados de diversas bases públicas e gera alertas automáticos sobre eventuais restrições, contribuindo para o fortalecimento das práticas de diligência, governança e conformidade ESG no setor.

Entre as bases integradas na versão 1, estão o Cadastro Ambiental Rural (CAR), as listas de trabalho escravo (MTE), registros de terras indígenas (FUNAI) e áreas quilombolas (INCRA), além de áreas embargadas (IBAMA e ICMBio), unidades de conservação (MMA), dados de desmatamento (INPE), informações sobre florestas tipo B (Cadastro Nacional de Florestas Públicas) e cadastro de sítios arqueológicos (IPHAN).

O sistema permitirá o atendimento à Circular Susep nº 666/2022, que estabelece diretrizes socioambientais, e integrará, futuramente, novas bases e funcionalidades nas versões 2 (2026) e 3 (2027). A solução foi lançada poucos dias após a publicação da Resolução CNSP 485 e apoiará as seguradoras na avaliação da conformidade socioambiental de propriedades rurais.

Para o diretor de Serviços às Associadas da CNseg, André Vasco, a inovação representa um salto na capacidade analítica e operacional das seguradoras. “A solução Conformidade Socioambiental traduz o compromisso da CNseg em oferecer soluções tecnológicas que aprimorem a análise de risco e fortaleçam as boas práticas no mercado segurador. Com ela, as seguradoras ganham agilidade, padronização e confiança para operar em um ambiente cada vez mais desafiador e exigente em termos de sustentabilidade”, afirma Vasco.

Já a diretora de Sustentabilidade da CNseg, Claudia Prates, reforça que a ferramenta faz parte de um movimento mais amplo de transformação digital e climática do setor. “O Hub de Inteligência Climática é uma das principais entregas da Confederação neste ano e constitui o núcleo estruturante da nossa estratégia de transição sustentável. Ele reúne, sistematiza e produz dados climáticos e socioambientais que ampliam a capacidade analítica das seguradoras, fortalecendo a precificação de riscos e contribuindo para reduzir o gap de proteção no campo e nas cidades”, destaca Prates.

O lançamento reforça o papel do setor de seguros como agente de transformação climática e socioambiental, ampliando a capacidade de precificação de riscos, redução de perdas e estímulo à regularidade ambiental no campo. O Hub de Inteligência Climática da CNseg reúne um conjunto de soluções voltadas à gestão de riscos climáticos e ambientais, entre elas a Ferramenta de Avaliação de Riscos Climáticos (com a primeira versão tratando os eventos de inundação e alagamentos). O objetivo é transformar dados complexos em informações estratégicas para o fortalecimento da resiliência econômica e social diante das mudanças climáticas.

Avanço das práticas regenerativas abre caminho para seguros rurais mais personalizados

Práticas regenerativas podem elevar em até 30% a retenção de água no solo e reduzir em 15% as perdas causadas por eventos climáticos, aumentando a produtividade e a resiliência no campo. A avaliação foi feita por Raquel Gaudencio, superintendente da Brasilseg, durante painel promovido pela BB Seguros na manhã de quinta-feira (20), na Casa do Seguro, durante a COP30, em Belém. Segundo ela, esse potencial orienta a parceria entre BB Seguros, Embrapa e Mapa no projeto-piloto do Zarc (Zoneamento Agrícola de Risco Climático) para níveis de manejo da soja no Paraná, iniciativa que demonstra a integração entre seguro rural, tecnologia e sustentabilidade.

O consórcio desenvolvido com a Produzindo Certo reforça o papel do seguro como indutor de práticas regenerativas, ao valorizar sistemas produtivos que unem inovação e impacto ambiental positivo. O desempenho da agricultura brasileira reflete essa evolução: entre 1977 e 2024, a produção de grãos cresceu mais de 500%, enquanto a área plantada aumentou 160%, sinalizando ganhos de produtividade sem expansão de fronteiras agrícolas.

O primeiro painel, “Da Modelagem Climática à Precificação Inteligente”, reuniu ainda Sílvia Massruhá, presidente da Embrapa; Paulo Hora, superintendente executivo Rural e Resseguro da Brasilseg; Jonathas de Alencar Moreira, coordenador geral de Instrumentos de Mercado e Financiamento do Mapa; e Aline Maldonado Locks, CEO da Produzindo Certo.

Sílvia destacou que a adaptação às mudanças climáticas faz parte da missão da Embrapa desde sua fundação, há 52 anos. A instituição já desenvolveu mais de 4.000 tecnologias para os seis biomas brasileiros, com forte impacto na sustentabilidade. Entre elas está o Zarc, criado em 1996 e referência na gestão de risco. Sua evolução mais recente, o Zarc Níveis de Manejo, combina inteligência artificial, dados climáticos, informações de solo e modelos de risco, inaugurando uma nova etapa tecnológica no campo.

Desenvolvido em parceria com o Mapa, o ZarcNM classifica áreas agrícolas em quatro níveis de manejo com base em seis indicadores agronômicos — entre eles teor de cálcio, tempo sem revolvimento de solo, cobertura de palhada e diversidade de culturas. Integrando dados georreferenciados e análises físicas e químicas, o sistema evidencia que a resiliência depende não só do clima, mas também do manejo. Entre os benefícios estão maior resistência das lavouras, expansão de práticas conservacionistas, redução do déficit hídrico e acesso ampliado à subvenção do PSR (Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural).

Segundo Sílvia, o Brasil reúne condições para produzir e conservar simultaneamente, apoiado em ciência e dados. Ela afirmou que práticas regenerativas comprovadamente tornam as lavouras mais resistentes a enchentes, secas e outros extremos climáticos. “Produtores que cuidam da saúde do solo e adotam práticas regenerativas sempre reagem melhor aos eventos extremos. Produzir e preservar é possível, e o Brasil tem tecnologia para isso”, afirmou.

Moreira, do Mapa, reforçou que o Zarc Níveis de Manejo aproxima políticas públicas da realidade do produtor. Para ele, a lógica é simples: melhor manejo significa menor risco e maior incentivo. O mecanismo permite diferenciar produtores de um mesmo município conforme suas práticas, reduzindo riscos para crédito e seguro e valorizando quem investe em sustentabilidade. Ele lembrou que o Plano Safra agora exige conformidade com o Zarc para concessão de crédito, o que reforça seu papel no planejamento agrícola.

O projeto-piloto no Paraná, aplicado em 2.400 hectares, ilustra esse avanço. O modelo individualiza práticas e ajusta a subvenção conforme quatro níveis: até 35% no nível mais alto e 30%, 25% ou 20% nos demais. A meta é ampliar produtividade, reduzir perdas e gerar benefícios ambientais, como maior fixação de carbono e melhor estrutura do solo. Moreira observou que os efeitos são mais evidentes em anos de clima adverso. Ele avaliou ainda que o modelo estimula tecnologias de baixa emissão de carbono, combinando rentabilidade e sustentabilidade, mas ainda demanda avanços para reduzir custos de monitoramento e verificação.

Resultados concretos

Aline Locks, da Produzindo Certo, afirmou que os resultados das práticas regenerativas já são visíveis, impulsionados pela percepção de que a mudança climática exige adaptação imediata. Ela explicou que ganhos econômicos — como solos mais férteis e menor dependência de insumos — aceleram essa transição.

Ao apresentar o Reg.IA, consórcio liderado pela agtech para fortalecer a agricultura regenerativa, Aline destacou que suas métricas transformam impacto ambiental em valor econômico, influenciando venda de grãos, crédito e condições de seguro. O protocolo inclui rotação de culturas, cobertura vegetal, plantio direto, uso racional de insumos e adubação orgânica.

Os resultados reforçam o avanço: participantes registraram solos mais férteis, maior teor de carbono e melhor desempenho ambiental. A última medição apontou emissões de cerca de 570 kg de CO₂ por tonelada de soja e milho, bem abaixo da média nacional de 1.500 kg. Também foram avaliadas APPs, qualidade da água e conservação de mananciais. “É a convergência entre ciência, monitoramento e prática que torna os resultados palpáveis”, disse.

O futuro é a precificação granular

A BB Seguros firmou parceria com o consórcio para avaliar como a resiliência gerada pelas práticas regenerativas pode se refletir em seguros mais ajustados ao risco. Para Paulo Hora, da Brasilseg, aproximar ciência e seguro transforma a precificação. Variáveis agronômicas, afirmou, mudam completamente o custo do risco e apontam para uma precificação mais personalizada — e mais justa.

Com os dados do consórcio, já foi possível reduzir taxas entre 7% e 13% e elevar a produtividade segurada de 13% a 35%. Hora acredita que o caminho para os próximos anos é uma precificação cada vez mais granular, baseada em informações de solo, clima e manejo. Ele também destacou que os eventos climáticos se intensificaram — no Brasil, a agricultura acumulou R$ 420 bilhões em perdas na última década — enquanto a proteção ainda é baixa: o capital segurado não alcança 8% do PIB agropecuário. Para Hora, isso ocorre porque precificar exige compreender a interação entre solo, atmosfera e planta, diretamente afetada pelo manejo. Mesmo assim, ele vê avanço: “Seguro não é só instrumento de reparação, mas também de indução de boas práticas”.

Risco climático no centro da estratégia financeira

O segundo painel reuniu executivos do Banco do Brasil e da BB Seguros para discutir como o sistema financeiro e o setor de seguros podem impulsionar uma economia de baixo carbono e apoiar o desenvolvimento sustentável.

Gabriel Santamaria, diretor de Sustentabilidade do BB, explicou que os prejuízos globais com eventos extremos chegaram a US$ 310 bilhões em 2024, e líderes mundiais já veem o clima como o principal risco de longo prazo. Nesse contexto, o banco incorporou sustentabilidade à sua estratégia e direciona cerca de R$ 400 bilhões em crédito para setores verdes, com meta de alcançar R$ 500 bilhões. Para ele, o sistema financeiro é chave para orientar fluxos de capital que acelerem a transição para uma economia verde e inclusiva.

Santamaria destacou a atuação do banco no mercado voluntário de carbono, com cerca de 30 projetos no agronegócio e uma mesa própria de negociação. Mencionou ainda iniciativas de sociobioeconomia, que levam bancarização, microcrédito e apoio produtivo a comunidades isoladas. No campo regulatório, ressaltou o impacto crescente das regras do Banco Central e a incorporação do custo de carbono por grandes empresas — fatores que já influenciam risco de crédito, rating e modelos de negócio. Ele afirmou que o banco trabalha para antecipar riscos físicos e de transição e apoiar clientes na adaptação.

A discussão avançou para o papel combinado de crédito e seguro na resiliência do agro. Betinho, diretor de Agronegócios do BB, lembrou que o setor está cada vez mais exposto a eventos climáticos e que o seguro é decisivo para evitar rupturas financeiras. O banco possui R$ 400 bilhões em carteira agrícola, dos quais R$ 170 bilhões já são considerados sustentáveis — uma distinção que, segundo ele, tende a desaparecer com a consolidação de uma agricultura integralmente sustentável.

Ele citou perdas recentes no Paraná para reforçar que boas práticas não eliminam riscos extremos, o que torna essencial a integração entre crédito e seguro. O BB investe em startups e tecnologias que aumentam a resiliência, como bioinsumos que melhoram a gestão hídrica. Betinho ressaltou que o crédito deve mitigar riscos imediatos e financiar a incorporação de novas tecnologias, mas ainda enfrenta entraves como burocracia, insegurança jurídica e mau uso da recuperação judicial, que elevam exigências de garantia. Ele defendeu políticas públicas que fortaleçam seguro agrícola e assistência técnica, permitindo ampliar crédito sem aumentar o risco sistêmico.

Seguros: um dos eixos da transição climática

Delano Valentim, CEO da BB Seguros, afirmou que o seguro passou a ocupar posição estratégica na transição climática. Diante da maior frequência de eventos extremos, disse, o setor precisa de modelos capazes de antecipar riscos e precificar com base em ciência, dados geoespaciais e inteligência territorial. “Não existe transição segura sem seguro”, resumiu.

Delano defendeu uma atuação mais proativa, com uso de inteligência artificial e integração de bases públicas e privadas. A BB Seguros aposta em modelagens atuariais mais robustas para oferecer preços mais justos e produtos ajustados ao risco real. Ele também ressaltou a necessidade de estímulos regulatórios para seguros climáticos e alertou para a baixa penetração do seguro rural no país. Para ele, ampliar a proteção é fundamental para enfrentar perdas crescentes e apoiar a adaptação dos produtores.

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