O foco dos prestadores de serviços de seguros deve ser o cliente. Esta é a recomendação de Ingo Weber , CEO e co-fundador do Digital Insurance Group, eleita a melhor corretora de seguros da Europa. Ele participou na quarta-feira (01/8) do primeiro dia do CQCS Insurtech & Inovação. O evento, realizado em São Paulo, reune durante dois dias investidores, seguradores, insurtechs e prestadores de serviço e tem como objetivo discutir as transformações tecnológicas no setor de seguros.
Para Weber, é fundamental atender à necessidade do cliente e mudar algumas práticas do mercado como a de “punir” o consumidor por comportamentos ruins. Este modelo se inverteu para o de “recompensar aqueles com comportamento positivo”.
Com a tecnologia, o setor pode minimizar um de seus gargalos: reter o cliente, tornando o relacionamento mais constante em vez de se limitar a uma vez por ano. As empresas podem, por exemplo, oferecer serviços e notificações personalizadas, favorecendo um engajamento do consumidor.
Se por um lado a tecnologia promove maior eficiência, ela certamente traz também mais concorrentes, de acordo com Weber. “O cenário hoje é brutal, todos lutam pelo mesmo cliente, e o que ele quer é facilidade”, afirma. Além de outras seguradoras e bancos, entram em cena plataformas de ofertas variadas de produtos e serviços, como a chinesa Alibaba, onde o consumidor encontra várias soluções em um único endereço.
Essas plataformas oferecem mais ameaças às empresas tradicionais do que as insurtechs, na opinião do CEO. Algumas startups terão sucesso, especialmente as que atuam em nichos de mercado, mas a inovação está ao alcance de todos – a questão é como fazer isso rapidamente e na direção certa. Se a empresa não tem um website ou um app eficiente e completo, não é o caso de investir em Blockchain. “Faça primeiro a lição de casa”, recomenda.
Equilíbrio entre inovação e regulamentação
Como inovar com responsabilidade, sem colocar em risco a confiança do cliente, foi um tópicos centrais do painel “Regulamentações e Garantias dos Direitos do Cidadão em Tempos de Insurtech”, durante o primeiro dia do CQCS Insurtech & Inovação.
Joaquim Mendanha de Ataídes, superintendente da SUSEP (Superintendência de Seguros Privados), destacou que o amadurecimento do setor de seguros está ligado à solidez, à transparência e à desburocratização. “As pessoas precisam ter mais informação de qualidade sobre os seguros”, afirmou. “Estamos trabalhando muito no microsseguro para atingir as camadas mais baixas da população. Atualmente é pequeno o percentual da população que possui algum tipo de seguro”.
Os desafios na Europa não são muito diferentes. Segundo José Figueiredo Almaça, presidente da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões de Portugal, há um plano de ação pelo qual procura-se alcançar o equilíbrio entre inovação, estabilidade financeira e proteção ao consumidor.
“Busca-se formatar um ambiente financeiro europeu mais competitivo e inovador, permitindo a expansão por toda a União Europeia através de requisitos de licenciamentos claros e coerentes”. A regulamentação envolve ainda prestadores de serviços de crowdfunding e análise da evolução de criptoativos.
Atrelados a estes desafios estão oportunidades para os players, entre elas a oferta de produtos flexíveis, meios de distribuição rápidos e com boas práticas e mais eficiência por meio da automação.
Jorge Nasser, diretor presidente do Bradesco Vida e Previdência, moderou o painel e destacou o perfil da gestão da SUSEP, atuando de forma proativa e aberta ao debate”. A inovação vem para nos tirar da zona de conforto, melhorar o negócio e a relação com o cliente, mas temos uma relação durável, por isso é preciso olhar a inovação com responsabilidade”, alertou.
Perspectivas
Caribou Honig, chairman da InsureTech Connect, apresentou no período da manhã do evento o que acredita ser os mitos da disrupção e as perspectivas para o setor. Honig não vê as insurtechs como inimigas das companhias tradicionais e nem que estão destinadas a falhar. O caminho, para ele, deverá ser o de parcerias e incorporações.
Como em toda nova tecnologia, é preciso absorver o que ela pode trazer de positivo, como a transparência. “O cliente agora é capaz, por exemplo, de comparar preços com mais facilidade”, disse Honig. O benefício também se aplica à empresa, que pode identificar com mais rapidez onde estão os gargalos e problemas.
E quais são as tecnologias que irão revolucionar o setor de seguros nos próximos anos? Em uma enquete feita em seu perfil no LinkedIn, Caribou identificou que as apostas são em Inteligência Artificial e APIs (Application Programming Interface). Independentemente da tecnologia em si, os profissionais devem refletir não apenas sobre o que é “possível”, mas também no que é o “novo normal”.