Palestrantes discutem inovação, governança corporativa, desregulamentação, os desafios para o corretor de seguros e negociação
Na última quarta-feira (24), a Academia Nacional de Seguros e Previdência – ANSP realizou palestra sobre o tema “Governança Colaborativa e Indústria de Seguros” em mais uma edição do Café com Seguro. A live foi apresentada pelo Diretor da instituição, Edmur de Almeida, e moderada pelo coordenador da Cátedra de Inovação e Gestão Operacional, Acadêmico Sérgio Luiz Hoeflich, que foram os coordenadores do evento. Teve a participação de Icaro Demarchi Araújo Leite, da Sra. Joceli Pereira e do Dr. Yann Duzert, que foram os palestrantes do evento. Também contou com a presença do presidente, João Marcelo dos Santos, que fez alguns comentários iniciais sobre o tema do evento, além de contribuir com o debate realizado ao final dos painéis.
“Discutir inovação é uma questão central nos dias de hoje. A quantidade de mudanças que enfrentamos atualmente é uma tempestade perfeita sem perspectiva. Temos a regulação brasileira em processo de transformação paradigmática, extremamente importante e positiva. Temos também os novos riscos a serem segurados, a nova visão da previdência, mesmo o ramo de automóvel, todos passando por grandes transformações”, disse o presidente da ANSP.
João Marcelo acredita, nesse contexto, que “a ANSP cumpre o seu papel discutindo inovação e trazendo bons profissionais e estudiosos com a generosidade de produzir e difundir conhecimento”, enfatizou.
Sérgio Luiz Hoeflich iniciou sua fala explicando o objetivo do evento. “Ele está motivado, orientado em sua primeira fase a explicar o que é inovação a partir do ponto de que ela não está relacionada apenas as novas tecnologias. Quando se fala em inovação as pessoas automaticamente pensam em TI, aplicações e etc. Esse não é, porém, o nosso foco principal. Nós estamos preocupados com o encadeamento”, explicou o acadêmico, destacando que o intuito dessa edição do Café com Seguro foi trazer à discussão o que vem por aí, de que maneira a inovação irá impactar nos negócios de seguros e quais os riscos já devem ser considerados. O debate enseja entender como se dará a reorganização da cadeia produtiva, da rede colaborativa de seguro.
“A apresentação se inicia com uma visão do mercado, aborda a questão da demanda dos corretores e por fim traz novidades relacionadas à governança colaborativa. Mostra uma metodologia que pode nos ajudar a olhar para o futuro com menos incerteza, com a capacidade de entender que dá para ser colaborativo em um mercado competitivo”, revelou.
Icaro Demarchi Araújo Leite iniciou sua palestra comentando que muito tem se falado sobre o tema governança colaborativa, inovação no mercado de seguros e o que pode ser aproveitado de outros mercados. “Mas é interessante fazermos uma breve separação de quatro verticais que nos parecem mais importantes. Para cada uma delas a gente vê algumas movimentações tanto do mercado, quanto da Susep e de players que são eventualmente outsiders desse mercado”, disse.
A primeira vertical é a questão da regulação, que está muito vinculada ao trabalho, especialmente ao que os entes fiscalizadores promovem. De acordo com Leite, nota-se um processo de bastante aceleração no modelo de regulação. Existem algumas despadronizações, especificamente falando de alguns ramos ou segmentos que a Susep vem fazendo recentemente. “Temos visto também a forma como a Superintendência pretende olhar para o mercado, o que ela efetivamente vai pedir para fins de supervisão, o que já é uma segunda vertical”, adiantou. Um exemplo clássico voltado para o mercado de seguros e resseguros propriamente é o sistema de registro de operações que a Susep colocou no ar no final do ano passado e continua em evolução com a última circular que foi publicada na semana passada sobre conteúdo informacional.
Existe também a vertical de supervisão. A Susep começa a mudar o seu modelo se supervisão, inclusive com o auxílio de algumas identidades registradoras do SRO. Ela faz essa supervisão com novas ferramentas, tentando aliar a liberdade que ela oferece de desregulamentação com um mínimo de informação que ela precisa efetivamente administrar e consequentemente fiscalizar o mercado.
A terceira vertical é a de dados. “A gente sabe que as seguradoras trabalham de forma bastante aprofundada na análise de dados. No final das contas, o trabalho de uma seguradora está muito atrelado a uma análise bem granular, bem aprofundada de informação em termos de dados para uma tomada de decisão, seja para uma subscrição de risco, para uma regulação de sinistro e assim por diante”, analisou.
Mas, ao mesmo tempo, há mais oferta de informação e capacidade de gerar novas informações a partir dos dados, seja das seguradoras ou de outras entidades, para uma construção cada vez maior de trocas de informações que aperfeiçoam esse mercado. “Por fim, eu trago essa vertical um pouco mais apartada, em que pese a gente tem inovação em todas elas, aquilo que de fato é bem diferente. Que vem de uma construção, olhando a cadeia como um todo, que tenta gerar sinergia, que tenta acabar com a entropia que eventualmente existe no mercado”, relatou.
Segundo Joceli Pereira, o desafio é trabalhar, atuar com inteligência de mercado. O velho discurso de “Eles lá e nós cá” precisa ser suplantado. É preciso ressignificar o corporativo para o colaborativo. A inovação é uma realidade, não tem volta, e não se pode enxergar essa alteração por um único vértice de análise. Se não houver colaboração entre os diversos stakeholders não haverá governança colaborativa. “Todos nós trabalhamos com risco e eu vejo que a educação, a governança corporativa, todas essas novidades tratadas aqui representam uma grande oportunidade para que cada profissional se torne melhor, mais importante e talvez até mesmo imprescindível nesta indústria”, concluiu.
De acordo com o Dr. Yann Duzert,nós passamos 80% da nossa vida negociando. Em sua visão, gestão de risco, da informação e da decisão também são o mesmo que negociação. “Existe um problema sério, 93% dos executivos nos Estados Unidos não têm nenhuma formação nessa área. Hoje, os seguros, os bancos, os produtos estão se tornando commodities por mimetismo. O que os diferencia são os valores. Temos o desafio de pensar a sustentabilidade, trazer valor com a nossa marca, com o nosso produto”, afirmou.
Em sua apresentação, o executivo mostrou também que todo mundo quer fazer o famoso ganha-ganha, mas, na prática, apenas 6% o fazem efetivamente. Sem negociação de venda, de suprimento, de conflito, a grosso modo 20% fecham negócios e desse total apenas 30% são ganha-ganha. “Outro problema é que as pessoas confundem o fato de ser colaborativo, cooperativo com não ser competitivo. Não devemos negar o valor da competição. Da mesma forma a cooperação é necessária para criar valor, compartilhar a gestão do risco da informação e os riscos”, alertou.
Duzert também trouxe insights sobre as novidades da tão antiga arte de negociar abordada em seu recém-lançado livro “Newgociação”. A obra trata do direito no processo de tomada de decisão e tem como público-alvo os profissionais do setor público. Também comentou um artigo publicado em uma revista de circulação nacional que mostra que hoje um CEO perde o seu emprego exatamente pela falta de determinados valores, pela falta de foco na sustentabilidade. O consumidor da atualidade busca por valor e confiança. A era em que a negociação era baseada nos interesses chegou ao fim. Agora ela se baseia em valores também.
“Se você não pensa nos riscos de curto e de longo prazo, você se torna vulnerável. Hoje o capitalismo consciente tem enfrentado uma dificuldade entre o curto e o longo prazo e entre os valores necessários para se reter seus colaboradores. O trabalho da governança corporativa é juntar profissionais com diferentes perfis e culturas”, explicou.
Assista a live completa no canal da ANSP