O mercado brasileiro de seguros abre uma nova fronteira com duas grandes novidades: a reforma da Previdência e a regulamentação dos seguros intermitentes e por prazo definido. Os dois temas fecharam os debates da CONSEGURO 2019, o congresso bianual do mercado de seguros, realizado pela Confederação Nacional das Seguradores (CNseg), em Brasília.
Com o aumento da expectativa de vida, o envelhecimento da população e o Estado assumindo papel secundário no amparo e proteção de parcela da sociedade, o hábito de poupar precisará ser incorporado à rotina de toda a população nas próximas décadas. A educação financeira será um gatilho para preparar as diversas gerações para a construção de um futuro mais seguro. Com a necessidade de planejamento, a adesão aos planos de previdência deve ganhar ainda mais destaque após a conclusão reforma constitucional, em tramitação no Congresso. As mudanças aumentarão o tempo para que trabalhadores cumpram exigências como idade mínima e tempo de contribuição.
O professor do Insper, Naercio Menezes Filho (foto), mostrou como a evolução da expectativa de vida, as falhas da educação no Brasil, e a estagnação na produtividade, empurram cada vez mais jovens para o mercado informal ou aquele trabalho “por conta própria”, reduzindo uma fonte de receita importante para a Previdência Social. “Apesar de os gastos por aluno do ensino fundamental terem triplicado entre 2000 e 2014, não houve efeito no aumento da produtividade, que está estagnada há três décadas”, lembrou o professor.
A estagnação da produtividade brasileira, comprometida pela falta de qualidade do ensino, pode representar uma ameaça ao desafio de custear as despesas quando na chegada da terceira idade. De acordo com o secretário de Políticas de Previdência Social do Ministério da Economia, Leonardo Rolim, a educação é estratégica para garantir melhoras reais do País, um mercado de trabalho mais saudável e um sistema de previdência social mais equilibrado. Segundo ele, a reforma da Previdência tornou-se prioritária porque o país caminha para estar entre as dez nações mais envelhecidas até o fim do século, e as despesas hoje já equivalem à de países maduros.
“O Brasil convive com uma rápida transição demográfica. Antes, era um dos países mais jovens do mundo. Agora, mudou sua trajetória e estará entre os 10 países mais envelhecidos. E, ao contrário da Europa, nós não estamos enriquecendo antes de envelhecer. Então teremos de ficar ricos após envelhecer, o que é desafio mais complexo”, explicou Rolim.
O presidente da Federação Nacional de Previdência Privada (FenaPrevi), Jorge Nasser, apontou os planos de previdência entre as soluções para atenuar os riscos de um envelhecimento sem qualidade de vida. Segundo ele, é preciso desmistificar a ideia de que o Estado terá condições de arcar com o pagamento de vinte salários mínimos, quando elas se aposentarem pelo regime geral.
Já o presidente da Federação Nacional de Capitalização (FenaCap), Marcelo Farinha, ponderou que, apesar de necessário, “os trabalhadores não poderão poupar todos os excedentes para a aposentadoria e, na realização de sonhos, poderão comprar títulos de capitalização, de acordo com seus objetivos”.
Seguro intermitente inaugura nova fase de relações de consumo no País
Depois que a Superintendência de Seguros Privados (Susep) regulamentou, na semana passada, a comercialização de seguros com vigência reduzida de contrato e período intermitente, foi dada a largada para uma corrida que pode mudar as relações de consumo no Brasil. “No momento, o pódio está completamente vazio. Esse mercado ainda é um bebê. Alguém vai vencer essa corrida e ninguém sabe quem é. Talvez alguns vencedores estejam nessa sala”, disse o executivo e membro do Comitê LATAM do Society of Actuaries (SOA), Ronald Poon-Affat, para a plateia da CONSEGURO 2019.
Foi com irreverência e otimismo que Poon-Affat falou sobre desafios no Brasil e tendências no setor de seguros em países desenvolvidos, principalmente nos Estados Unidos. No telão, ele exibiu a foto de um chocolate e de um brócolis. Em seguida, concluiu: “É mais fácil vender chocolate. E seguros não é chocolate”. Para os futuros agentes e operadores de seguros intermitentes ficou a lição de que a criatividade irá nortear o caminho de sucesso nesse novo ramo.
Poon-Affat deu exemplos de produtos inovadores que movimentam o mercado norte-americano. A seguradora digital Lemonade (estilo turn on/ turn off), por exemplo, arrecada cerca de U$ 18 milhões a cada trimestre. A empresa é acionada para cobrir temporariamente casas alugadas pelo Airbnb. Segundo ele, esse tipo de produto tem sucesso quando os números são grandes. “O Brasil tem esses números”, disse o executivo ao mostrar um gráfico do ecommerce brasileiro, em que o país aparece acima da média mundial.
Sobre o caminho a ser percorrido pelas empresas nessa nova fase, o superintendente Atuarial da Mitsui Sumitomo Seguros, Gustavo Genovez, destacou a flexibilidade que a regulamentação da Susep permitiu ao setor e que, agora, há uma preocupação para manter a atratividade do que já existe no mercado de seguros. “Estamos vivendo em um universo com tecnologia avançada e facilidades em nossas vidas, além de mudanças sensíveis no comportamento de consumo”, afirmou em sua fala, que também abordou os riscos de fraude nas novas operações intermitentes e uso de inteligência artificial.
Marcos Spieguel, presidente da Comissão Atuarial da Confederação Nacional de Seguradoras (CNSeg) e moderador do painel, frisou que o desafio é grande e que o setor não pode ter medo de errar. “Processo de lançamento de produtos vai ser um desafio para todos nós. Vai ser preciso agilidade. Brigamos tanto por normas que nos dessem essa flexibilidade, então agora temos que responder ao regulador o consumidor de forma rápida”, concluiu. FONTE – CNseg