Aumento dos juros e sinistros climáticos das safras anteriores podem tornar mercado de resseguro mais caro e restritivo
O segmento do seguro rural superou todas as expectativas de crescimento e deve fechar 2022 com arrecadação 23,8% maior em relação ao ano anterior. Esse movimento acelerado de expansão já vinha sendo observado no semestre anterior. Entre junho de 2021 e junho de 2022 o avanço ultrapassou os 40%. A procura pela proteção no campo se explica pelo aumento dos eventos climáticos severos, que castigaram lavouras em diversas regiões do país. Segundo a Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), foram pagos R$ 8,5 bilhões em indenizações em 2022, valor 227,0% superior ao pago no primeiro semestre de 2021.
Esse movimento tem impacto direto nas companhias resseguradoras, responsáveis por diluir o risco das seguradoras em nível mundial. Segundo o CEO e cofundador da Sombrero Seguros, Leonardo Paixão, esse seria um dos fatores macroeconômicos que mais marcaram o ano de 2022 e que deve continuar se refletindo em 2023. “No caso do Brasil, 2021 foi um ano muito desafiador, com grandes perdas climáticas. Boa parte das seguradoras brasileiras que atuaram nesse ano teve perdas e boa parte dessas perdas foi parar no mercado de resseguro”, explica.
Em atividade no mercado brasileiro desde janeiro de 2022, a Sombrero não sofreu efeitos negativos dessa turbulência. Essa vantagem, somada à proposta de aliar inovação à experiência de décadas de mercado de seguros dos seus fundadores, fez com que a empresa se destacasse logo de chegada, atingindo o top 5 no ranking de maiores prêmios emitidos por seguradoras no primeiro semestre de 2022, no ramo agrícola. Segundo Paixão, em 2022 a empresa já emitiu mais de 6 mil apólices em doze estados brasileiros.
Capital restrito
Ao lado do clima, outro fator que teve grande repercussão no segmento de seguro rural em 2022 – e que deve reverberar em 2023 – é o aumento da taxa básica de juros nas economias desenvolvidas. De acordo com o CEO da Sombrero, esse fenômeno já vinha de 2020 e se acentuou nos anos seguintes. “Como essas taxas subiram, há uma tendência de parte do capital disponível para o resseguro ser alocado em títulos públicos dessas economias. Como você diminui o capital disponível, isso faz com que o mercado global de resseguro fique mais restritivo para aceitar riscos, e ainda mais caro”, avalia Leonardo Paixão.
O especialista reforça que em um cenário como o atual – com o agricultor brasileiro produzindo a um custo muito elevado – buscar uma cobertura é fundamental. “Ter seguro permite ao produtor correr mais risco, investir mais, comprar mais insumos, captar mais financiamentos e assim buscar uma produtividade maior. Isso porque ele sabe que se algo der errado vai ter um seguro lá. Quem tem seguro pode ter objetivos mais ambiciosos. Quem não compra seguro acaba tendo que separar recursos para se precaver contra imprevistos, deixando de investi-los na produção”, sentencia.
Cenário futuro
Para 2023 a expectativa é que o seguro rural continue sendo muito procurado pelos produtores agrícolas brasileiros e conte com apoio governamental. A previsão é que o valor destinado por meio Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) do governo federal, continue nos mesmos patamares de 2022. Até o momento foram disponibilizados R$ 990 milhões para o programa, embora o valor anunciado para o PSR em junho de 2022 durante o lançamento do Plano Agrícola e Pecuário 2022/23 tenha sido de R$ 2 bilhões.
“A incógnita é que, para que os desembolsos por parte do governo aconteçam, é preciso haver arrecadação e isso tem relação com o nível de atividade econômica. Se tudo correr bem, vai haver boa quantidade de recursos. Mas vamos lembrar que esses recursos sempre acabam antes da demanda. Quando a subvenção termina, ainda tem produtor querendo. Como é por ordem de chegada, tem muita gente que ainda fica de fora”, pondera Paixão.
De acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), para o seguro atender à mesma demanda do ano passado, seria necessária uma suplementação de R$ 710 milhões por parte do governo, totalizando R$ 1,7 bilhão em subvenção.
Em relação às mudanças políticas na esfera federal, o dirigente não acredita em retrocessos. “O governo que começa agora em 2023 foi o mesmo responsável pela criação do PSR lá em 2004, então imagino que ele vai continuar incentivando esse programa de subvenção.”