Brasil e França em fórum internacional: Open Insurance, IA, Clima, Infraestrutura

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Com o objetivo de fortalecer a cooperação internacional e fomentar a inovação no mercado de seguros, a Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) e a France Assureurs promoveram a primeira edição do “Fórum de Seguros Brasil – França”. O evento marca um passo importante na construção de soluções bilaterais para desafios comuns ao setor e foi realizado em Paris, na sede da seguradora CNP, que também ofereceu apoio institucional à iniciativa.

Em um ambiente com autoridades públicas, lideranças empresariais e especialistas em seguro, o painel “Open Insurance: Desafios e Oportunidades para o Brasil e para a França” mostrou que o entusiasmo com a inovação digital nos seguros precisa caminhar lado a lado com a cautela.

Moderado por Roberto Santos, presidente do Conselho Diretor da CNseg, o debate foi marcado por uma conclusão compartilhada: o Open Insurance pode até ter objetivos nobres, mas exige prudência, diálogo e uma implementação realista.

Logo na abertura, Santos expôs um panorama crítico sobre o estágio brasileiro. Embora frequentemente citado como referência internacional, inclusive pela França, o executivo discordou da ideia de que o Brasil esteja tão avançado nesse processo. “Já cumprimos a fase um e a fase dois, mas os dados dos consumidores ainda não são efetivamente compartilhados. O objetivo é nobre, mas estamos no meio de uma jornada cheia de riscos”, advertiu.

Do lado francês, Jérôme Balmes, diretor de dados, tecnologia e inovação da France Assureurs, considerou positiva a cooperação entre o Brasil e a França, mas se posicionou contra a pressão que o regulador francês faz sobre suas supervisionadas para que acelerem os processos relacionados ao Open Insurance e ao Open Finance, afirmando que estão atrasados em relação ao Brasil. “Vamos tentar evitar esta espécie de corrida que os reguladores travam para tentar impor a sua agenda”, afirmou.

Balmes relatou que a Comissão Europeia propôs em 2023, por meio de um projeto legislativo, uma abordagem qualificada como “Big Bang” para abrir todos os dados do setor financeiro, inclusive os de seguros, em apenas 18 meses. “Nenhuma empresa sensata pensaria em abrir todos os seus dados de uma vez, esperando ver o que vai acontecer. Falta ao legislativo a percepção de que inovação é desejável, mas é perigosa. Precisamos fazer um “test and learn” por etapas, sobretudo com um tesouro tão precioso como são os dados financeiros e de seguros dos cidadãos”, concluiu.

A diferença entre o setor bancário e o segurador foi outro ponto levantado. Santos destacou que o mercado de seguros, por sua própria lógica contratual e competitiva, já é “aberto” por natureza. “No banco, você abre uma conta e fica. No seguro, se a seguradora trata mal o cliente, ele vai embora. O cliente já tem esse poder. Então por que criar estruturas tão complexas e caras?”, questionou, complementando: “O regulador fez um control C, control V do modelo do Open Banking para o mundo do seguro, mas isso não funciona. Gastamos bilhões e, até agora, nada aconteceu.”

Alexandre Leal, diretor técnico e de estudos da CNseg, reforçou as críticas e acrescentou outras. No Brasil, durante a construção do Open Insurance, afirmou, não houve um debate mais aprofundados com todos os atores envolvidos e não chegaram a ouvir os consumidores para saber o que eles esperam dessa plataforma. Ele também levantou uma ausência notável no projeto brasileiro: os corretores. “Eles representam a maior parte da distribuição de seguros no Brasil e foram alijados dessa discussão. Isso é um equívoco.”

Leal não parou por aí: “No Brasil, mais de 150 ramos de seguros foram inclusos na versão inicial do Open Insurance, o que torna praticamente impossível as próprias empresas de seguros entenderem quais serão os benefícios e como que elas podem trabalhar as informações que eventualmente sejam compartilhadas pelo cliente nesse sistema”.

Ao final do painel, todos concordaram em um ponto-chave: é preciso permitir que o setor avance de forma segura, gradual e com escuta ativa. O encontro evidenciou que, quando o assunto é Open Insurance, não basta abrir os dados; é preciso abrir, antes de tudo, o diálogo.

O Fórum França-Brasil de Seguros, promovido pela CNseg em parceria com a France Assureurs, marca um novo capítulo da internacionalização do mercado segurador brasileiro. A proposta é fortalecer a cooperação bilateral, fomentar soluções inovadoras e integrar o seguro aos grandes projetos de desenvolvimento nacional, incluindo os voltados à resiliência climática e à inclusão econômica. Foto – Da esq. para a dir: Roberto Santos, Alexandre Leal e Jérôme Balmes

Executivos debatem regulação da IA

A ascensão da Inteligência Artificial (IA) e seu impacto no setor segurador esteve em debate no painel “Regulamentação de IA, segurança cibernética e combate à fraude”, no Fórum de Seguros França-Brasil, em Paris. O evento reuniu legisladores, executivos e especialistas do setor segurador para discutir o equilíbrio entre inovação, ética, proteção de dados e a urgência de uma regulação adaptativa.

Abrindo a mesa, o senador Eduardo Gomes (PL/TO) apresentou um panorama do cenário legislativo brasileiro, destacando o marco legal da Inteligência Artificial (PL 2338/2023), do qual é relator, como eixo central da construção de um marco regulatório para a IA no país. “A discussão sobre inteligência artificial no Congresso Nacional nasce de uma necessidade global de regulação”, afirmou.

O senador acredita que o setor segurador é essencial para dar segurança às pessoas em um cenário em que elas ainda não confiam totalmente na IA. Segundo ele, o projeto, em debate há mais de dois anos, busca integrar os avanços tecnológicos aos marcos já existentes, como os do Banco Central.

A perspectiva de um marco legal dinâmico, que evolua com a tecnologia e evite a fragmentação setorial, reforça a ideia de uma regulação com foco na proteção de dados como fundamento essencial. É justamente diante desse cenário em transformação que surgem novas preocupações no setor privado, como apontado por Richard Vinhosa, CEO da EZZE.

Vinhosa endossou a relevância da LGPD e das normas de defesa do consumidor no Brasil, mas alertou para os desafios contemporâneos, como os deepfakes e os impactos que eles podem ter na confiabilidade das informações. Em sua fala, trouxe uma visão prospectiva, explorando o futuro dos seguros em um mundo automatizado, com possibilidades que vão desde a redução da necessidade de seguros tradicionais até a criação de seguros específicos para este universo. Para ele, “o ponto crítico está na junção entre humano e máquina, que exige mais do que tecnologia: demanda ética, responsabilidade e cooperação entre governo, mercado e sociedade”.

Complementando a discussão com o olhar europeu, Marie-Aude Thépaut, diretora-geral da CNP Assurances, destacou como a IA pode atuar como alavanca estratégica para a missão central dos seguros: proteger bens e pessoas. Ela identificou três grandes frentes de aplicação: prevenção de riscos, melhoria no atendimento ao cliente e fortalecimento da conformidade regulatória, temas diretamente ligados à eficiência e confiança no setor.

No entanto, Marie-Aude Thépaut chamou a atenção para os riscos dessa transformação, especialmente quanto ao desenvolvimento ético da tecnologia. Para ela, é fundamental manter princípios como transparência, equidade e controle humano, evitando uma personalização excessiva das ofertas que contrarie o mutualismo, valor fundante da lógica securitária. Ela também alertou para os perigos de uma regulação excessiva, que, em vez de proteger, pode sufocar a inovação.

Essa multiplicidade de visões foi articulada com maestria por Arthur Ravier, moderador do painel e consultor de políticas digitais na France Assureurs. Em sua análise, destacou que a IA já era parte da rotina do setor há anos, especialmente na modelagem de riscos, mas que a emergência dos modelos generativos de linguagem (LLMs) trouxe um novo paradigma. Segundo ele, o alcance massivo dessas tecnologias — agora disponíveis para consumidores, trabalhadores e seguradoras — muda radicalmente o jogo.

Ravier enfatizou que, embora a IA ofereça ganhos significativos em automatização, personalização e eficiência, ela também levanta dilemas profundos. “Essas promessas vêm acompanhadas de desafios que precisam ser enfrentados com responsabilidade”, afirmou, alinhando-se ao tom geral da mesa.

Mesmo diante de realidades regulatórias distintas, os participantes do painel convergiram em uma convicção comum: a inteligência artificial é um vetor inevitável de transformação no setor de seguros. Para que esse futuro seja sustentável e confiável, será indispensável construir caminhos ancorados em ética, transparência, equidade e supervisão humana.

Seguro é fundamental para o desenvolvimento da infraestrutura no Brasil e no mundo, dizem especialistas em Paris

O setor de seguros pode ser a chave para impulsionar os investimentos em infraestrutura no Brasil e no mundo, ao atuar como instrumento de garantia, mobilizador de capital privado e indutor de segurança jurídica. Essa foi a conclusão do painel “Seguros e Investimento em Infraestrutura”, durante o Fórum de Seguros França-Brasil, em Paris. Especialistas e autoridades dos dois países defenderam que a integração efetiva do mercado segurador às políticas de infraestrutura é essencial para destravar obras, ampliar parcerias público-privadas e construir uma economia mais resiliente.

Na abertura do painel, Philippe Taffin, chefe do departamento de Economia e Finanças da France Assureurs, destacou o papel central que o seguro pode exercer em projetos de infraestrutura. Segundo ele, além de mitigar riscos, o setor tem o potencial de atrair recursos privados para empreendimentos essenciais. “O seguro atua como ferramenta de garantia e também como alavanca para mobilizar capital privado, contribuindo diretamente para a viabilidade econômica e jurídica dos projetos”, afirmou.

Leonardo Deeke Boguszewski, presidente do Conselho de Administração da Junto Seguros, destacou que o Brasil vive um momento favorável à atuação do setor, impulsionado, entre outras coisas, por mudanças legislativas como a nova Lei de Licitações. “Há uma série de projetos a caminho e, felizmente, as seguradoras hoje têm instrumentos para apoiá-los. A exigência de garantias mais robustas nos contratos abriu espaço para o setor agregar valor desde a análise técnica dos riscos até a viabilidade das obras”, explicou.

A segurança jurídica, por sua vez, foi apontada como elemento crucial para garantir a previsibilidade necessária à expansão dos investimentos. O procurador-geral da República, Paulo Gonet Branco, alertou sobre os riscos da instabilidade institucional. “O setor de seguros gosta do risco, precisa do risco. Mas há um risco que nem o setor pode suportar: o da insegurança jurídica. Sem a certeza de que os contratos serão respeitados, todo o arcabouço perde eficácia”, afirmou.

Para Davide Negri, gerente sênior de investimentos do BNP Paribas Cardif, o setor de infraestrutura é especialmente atrativo para seguradoras por suas características estruturais: diversificação, resiliência a choques econômicos e proteção contra a inflação. “Os fluxos de caixa desses projetos costumam estar indexados à inflação, o que é uma característica muito relevante para os investidores institucionais”, disse.

A experiência francesa também foi destacada no evento, com ênfase na mobilização da poupança individual como ferramenta de financiamento de uma economia resiliente. Segundo os participantes, o Brasil não está distante dessa realidade: com uma agenda robusta de investimentos em transporte, energia e infraestrutura urbana, o país tem potencial para ampliar a participação do setor privado por meio de parcerias público-privadas (PPPs), com o setor segurador ocupando papel de destaque.

O clima mudou: seguros, riscos e o desafio de proteger um mundo em crise

Diante do agravamento dos desastres naturais, o papel do setor de seguros na transição climática torna-se não só cada vez mais central, como mais desafiante ao exigir a revisão de modelos de risco e a busca por soluções sustentáveis. No Brasil, a recorrência de enchentes, secas e o avanço do desmatamento elevam a pressão sobre o setor, com impactos diretos sobre prêmios e coberturas. Na França, eventos extremos como ondas de calor e inundações também impulsionam adaptações nas práticas do mercado. Fato: a conta é cada vez mais salgada para seguradoras e resseguradoras dos dois países.

Em síntese, os especialistas que participaram do primeiro painel do Fórum de Seguros França-Brasil, intitulado “Seguro e Clima em um Mundo em Transformação”, ressaltaram a urgência de instrumentos inovadores, capazes de sustentar comunidades e investimentos em um mundo em transformação, além da própria sobrevivência dos grupos.

O debate teve a presença de Pedro Farme d’Amoed, CEO da Guy Carpenter; Michèle Lacroix, head of sustainability da SCOR; Rebecca Chapman, head of Climate and Environment, Principles for Responsible Investments (PRI); Timothy Bishop, senior advisor da OCDE; moderados por Christian Pierotti, chairman Climate Risks WP da GFIA (Global Federation of Insurance Association).

Perdas Seguradas

Em sua fala, Michele Lacroix (SCOR) alertou para o impacto crescente das mudanças climáticas e de fatores estruturais no custo das perdas seguradas globais. Segundo ela, as perdas seguradas globais, que há três décadas giravam em torno de US$ 25 bilhões por ano, hoje se aproximam — e frequentemente ultrapassam — a marca dos 100 bilhões. “Os especialistas já consideram que esse valor se tornará o novo normal”, alertou Lacroix.

Embora as mudanças climáticas tenham um peso inegável nesse cenário, Lacroix ressalta que elas não são o único fator. A inflação patrimonial, o aumento do valor dos bens segurados e a crescente concentração populacional em áreas expostas a riscos — como zonas costeiras — também são determinantes. “É a combinação desses três fatores que levou a esse extraordinário aumento no total de perdas seguradas”, explicou.

Ela acrescentou que, nos últimos 30 anos, o crescimento médio das perdas seguradas foi de 6% ao ano — descontando a inflação, cerca de 3%. As projeções indicam que esse ritmo deve se manter ou até acelerar, podendo dobrar o volume de perdas já na próxima década.

Outro ponto de atenção, segundo Lacroix, é o aumento dos chamados riscos secundários — eventos como incêndios florestais e tempestades convectivas, menos intensos individualmente, mas mais frequentes e cada vez mais relevantes nos cálculos de risco. “Em 2023, 90% das perdas seguradas vieram desses perigos, que não estavam no centro do modelo tradicional de resseguros”, observou.

A executiva defende que a resposta a esse novo contexto exige uma abordagem integrada, baseada em três pilares: prevenção, adaptação e mitigação.

“É através da prevenção que conseguiremos reduzir os sinistros e proteger os mais vulneráveis”, afirmou. Ela aponta a urgência de revisar normas de construção e incorporar o risco climático nas decisões urbanísticas. Em relação à adaptação, Lacroix enfatiza o papel das políticas públicas na capacitação das populações para reagirem a desastres naturais.

Por fim, ela reforça a importância da mitigação: “Devemos continuar lutando contra as alterações climáticas, reduzindo as emissões de carbono nas nossas carteiras e influenciando a economia real nesse sentido”. Para ela, o desafio não é apenas segurar riscos crescentes — é transformá-los em oportunidades de construção de resiliência.

Em complemento, o moderador Christian Pierotti destacou a urgência de estratégias de adaptação, mitigação e cooperação internacional.

Lacunas de Proteção

Pedro Farme d’Amoed (Guy Carpenter) chamou a atenção para a urgência de reduzir a lacuna de proteção, principalmente no mercado brasileiro. O executivo lembrou que há uma baixa percepção de risco no país e defende o avanço da modelagem preditiva como chave para ampliar a cobertura contra desastres naturais.

A seu ver, o Brasil ainda se enxerga, majoritariamente, como um país de baixa exposição a catástrofes naturais. Essa visão é não apenas equivocada, mas perigosa. “Há um risco de baixa percepção de risco pela população, e o reflexo disso é um abismo entre perdas econômicas e cobertura securitária”, disse o executivo, citando como exemplo a tragédia climática no Rio Grande do Sul em 2023.

“O evento teve uma lacuna de proteção de 95%. Para cada 100 reais perdidos, apenas cinco foram cobertos pela indústria de seguros. O restante coube à sociedade e ao governo”, afirmou Farme d’Amoed. Em um cenário global onde a média da proteção gira em torno de 60%, o dado brasileiro expõe uma fragilidade crítica. No estado afetado, menos de 15% das residências estavam seguradas.

O executivo vê o episódio como um marco — um alerta que não pode ser ignorado. “Não foi um evento isolado. As mudanças climáticas estão acelerando a frequência e a intensidade dessas ocorrências. E os dados confirmam isso.” Segundo Farme d’Amoed, o Atlas de Desastres Naturais do governo federal registra perdas anuais de R$ 40 bilhões a R$ 50 bilhões.

Diante desse panorama, ele relata uma transformação gradual na postura do setor. “Num primeiro momento, as companhias correram para mapear suas exposições. Agora, com maior maturidade, passam a atuar na oferta de proteção.” Um passo importante foi dado em agosto de 2024, com o lançamento do primeiro modelo preditivo de inundações no Brasil. “Hoje, mais de 20 empresas e Confederações já utilizam esse modelo para precificar riscos e ampliar cobertura”, destacou.

Farme d’Amoed vê nessa evolução um caminho promissor para reduzir a lacuna de proteção e ampliar a resiliência social. No entanto, enfatiza que o setor privado não pode agir sozinho. “É essencial avançarmos com parcerias público-privadas. O governo precisa assumir um papel de patrocinador da diversificação de riscos.”

Enfim, diante da crescente ameaça climática, não basta reagir. É preciso antecipar, modelar e proteger. E, sobretudo, reconhecer que o risco é real — e crescente.

Investimento Responsável

Rebecca Chapman (PRI), examinou o avanço do risco climático e o papel dos investidores institucionais. A seu ver, é fundamental a adoção emergencial de políticas públicas e ações coordenadas para enfrentar os riscos sistêmicos das mudanças climáticas.

Rebecca Chapman, disse que hoje há mais de 5.000 signatários em todo o mundo dos Princípios para o Investimento Responsável (PRI)— representando mais da metade do capital institucional global. Segundo ela, o PRI, apoiado pela ONU, está mobilizando esforços para acelerar ações concretas diante da intensificação da crise climática.

Ela reconheceu que o aquecimento global está afetando diretamente os negócios: “Estamos vivendo a realidade de um mundo 1,5 grau mais quente, com ondas de calor extremas, secas, inundações e incêndios. Cada fração de grau importa — e as perdas já são visíveis nos preços de ativos e na estabilidade de mercados.”

A executiva alertou que a superação do limite de 1,5°C implica riscos ainda mais severos, incluindo a ativação de pontos de inflexão climáticos — como o derretimento irreversível das calotas polares — que agravariam o cenário global. “Não é possível diversificar esse tipo de risco. Ele é sistêmico. Afeta preços de alimentos, disponibilidade de água e até mesmo a segurabilidade de ativos em regiões inteiras.”

Saídas? Reconhecimento do risco climático como material e urgente, especialmente à luz do atraso na implementação de políticas de mitigação; pressão por ações governamentais mais ambiciosas, especialmente no período que antecede a COP 30, que ocorrerá em Belém, em 2025. “É essencial termos políticas públicas críveis, alinhadas a planos de investimento consistentes com a transição energética”, reforçou.

Ainda: engajamento político estruturado como ferramenta estratégica para investidores (“reformar políticas públicas é chave para acelerar ações sustentáveis nos portfólios”). Além disso, adoção de estratégias regionais e adaptação às especificidades locais, com atenção especial ao Brasil, que conta hoje com mais de 130 signatários do PRI.

Ela concluiu sua fala lembrando que existem oportunidades em um quadro severo de extremos climáticos. “Investir em adaptação e em soluções de transição nos setores de alta emissão será cada vez mais essencial. A transição tardia exige ação, mas também abre espaço para inovação e liderança.”

Ações da OCDE

Timothy Bishop (OCDE) exortou a cooperação internacional e parcerias público-privadas como solução para construir resiliência financeira frente aos desastres naturais. Ele lembra que crise climática amplia lacunas de proteção e desafia acesso a seguros.

O executivo vê com preocupação a escalada das perdas causadas por desastres naturais e vê risco de acessibilidade e a disponibilidade de seguros, inclusive em países desenvolvidos. “Na Austrália, por exemplo, 15% das famílias já enfrentam dificuldades para pagar o seguro residencial. Esse número cresceu em apenas um ano”, destacou, para quem a redução de oferta é uma tendência global.

Ele explica que as mudanças climáticas aumentaram a frequência e a severidade dos eventos extremos, pressionando o mercado segurador e deixando milhões sem proteção. “Estamos diante de lacunas de proteção cada vez maiores. E, para lidar com questões tão complexas, precisamos de soluções internacionais articuladas”, afirmou.

Sobre o papel da OCDE, ele disse que a organização atua como plataforma de diálogo entre diferentes países e setores. Reúne reguladores de seguros, autoridades ambientais, especialistas em desenvolvimento e representantes da indústria para construir soluções conjuntas. “Somos um fórum onde governos conseguem conversar entre áreas que muitas vezes não dialogam nem dentro de suas próprias estruturas”, explicou Bishop. Essa capacidade de articulação torna a OCDE uma peça-chave para destravar políticas integradas de adaptação e financiamento de riscos.

Um dos pontos centrais trazidos por Bishop é a necessidade de avançar no uso de fundos de perdas e danos como instrumentos para fortalecer mecanismos de seguro, especialmente nos países mais vulneráveis. “Na próxima COP, este será um tema crucial. Precisamos garantir que esses fundos não sejam apenas compensatórios, mas catalisadores de resiliência.”

Bishop destacou ainda o papel essencial das PPPs não apenas para ampliar o acesso aos seguros, mas para impulsionar ações estruturais de redução de riscos. Ele citou o exemplo da Espanha, onde o sistema público-privado de seguros também contribui com informações para mapear áreas de risco e orientar políticas de mitigação. Casos como o Flood Re, no Reino Unido, e modelos suíços também foram mencionados como exemplos de boas práticas.

“Essas soluções podem ser politicamente difíceis de implantar, mas uma vez estabelecidas, têm um papel fundamental: ampliam a cobertura de seguros e fortalecem a capacidade de enfrentamento das sociedades frente aos desastres.”

Ele finalizou sua fala afirmando que a mudança climática exige uma nova abordagem de gestão de riscos — mais preventiva, mais colaborativa e com foco em soluções estruturantes. “Precisamos não só de mais seguro, mas de mais resiliência. E isso só se faz com coordenação entre governos, mercado e sociedade”, concluiu Bishop.

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