Os desafios e contradições da COP30 no Brasil

0
6

(*) Análise do João Alfredo Lopes Nyegray, professor da Escola de Negócios da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e coordenador do Observatório de Negócios Internacionais da PUCPR

O professor e pesquisador João Alfredo Lopes Nyegray avalia que o maior desafio da COP30 será transformar promessas em compromissos efetivos. A conferência ocorre num contexto de impasse entre países desenvolvidos e emergentes sobre financiamento climático, metas de redução de emissões e compensações por perdas e danos ambientais.

“Enquanto as nações industrializadas resistem a ampliar seu apoio financeiro, o Sul global continua arcando com os impactos mais severos da crise climática. Essa assimetria mina a confiança e bloqueia qualquer avanço real”, avalia.

Para o pesquisador, o Brasil ocupa posição estratégica nesta edição, podendo atuar como ponte diplomática entre o Norte e o Sul globais. Contudo, ele alerta que essa liderança dependerá da coerência entre discurso e prática.

“Não se lidera a pauta ambiental explorando novas fronteiras de petróleo na Amazônia. O país precisa mostrar que desenvolvimento e sustentabilidade podem coexistir – e que isso é mais do que retórica”, ressalta.

Além disso, Nyegray chama atenção para a conferência se tornar um evento de visibilidade com efeitos concretos. “A COP30 será um teste para saber se ainda somos capazes de agir coletivamente diante do colapso climático”, conclui.

A escolha de Belém (PA) revela as contradições entre o discurso global de sustentabilidade e a realidade de uma região marcada por fragilidade logística, pressões ambientais e desigualdade social.

“Trazer a COP para Belém é um gesto de valorização da Amazônia, mas que precisa ser acompanhado de coerência. Não se pode defender o meio ambiente num palco em que a própria infraestrutura ainda reflete exclusão e contradição”, afirma Nyegray.

Mestre e doutor em Internacionalização e Estratégia, especialista em Negócios Internacionais, advogado e graduado em Relações Internacionais, o professor do curso de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) destaca que os problemas estruturais da cidade amazônica – como a limitação hoteleira, os altos custos de hospedagem e as obras em atraso -, colocam em risco a participação ampla de delegações e organizações da sociedade civil.

“O que deveria simbolizar inclusão pode, paradoxalmente, excluir. Se apenas os países ricos conseguem estar presentes, a legitimidade do debate climático fica comprometida”, observa. 

DEIXE UM COMENTÁRIO

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.