ESPECIAL – Novos caminhos para novos tempos

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A modernização no ramo de saúde que ganhou prioridade para as pessoas, as novas coberturas no seguro residencial que foi mais valorizado com o home office, a proteção contra os riscos cibernéticos que cresceram junto às transações via internet, e as novas formas de eventos híbridos são alguns caminhos promissores

Edson Motta, especial para Segurador Brasil

O ano de 2020 será lembrado como de extraordinários desafios para todas as atividades econômicas, incluindo o seguro. O coronavírus atingiu ricos e pobres, e, ao impor uma quarentena prolongada, necessária, praticamente paralisou a produção, comprometeu empregos e a renda, desencadeando a pior crise econômica desde 1929.

“O setor de seguros sentiu naturalmente os impactos de um cenário adverso nos campos econômico e sanitário, mas está entre os setores mais resilientes à profunda recessão, e entre os que mais rapidamente se recuperam”, afirma Marcio Coriolano, presidente da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg).

Alguns ramos de seguros foram evidenciados durante a pandemia, quando as atenções se voltaram à importância da saúde e da vida.

Saúde: prioridade e modernização

O ramo de seguro saúde foi diretamente impactado pela Covid-19, em razão do aumento de atendimentos de casos, da ocupação de leitos, e da contratação de novos planos. Se por um lado os hospitais receberam mais pacientes com casos de coronavírus, também registraram queda de pacientes por outras doenças, principalmente tratamentos e cirurgias eletivos, com a intenção de postergar ao máximo a ida ao hospital.

Nesse sentido, a medicina é uma das áreas que mais se beneficia com os avanços tecnológicos. A discussão em torno da regulamentação da telemedicina – o atendimento ao paciente por vias digitais – há muito era tida como caminho para o futuro. Já vinha sendo aplicada em alguns casos para ampliar a atenção primária, incentivar e promover a prevenção e aprimorar diagnósticos. Por isso, as empresas voltadas para serviços digitais no setor de saúde, as chamadas healthtechs, vinham chamando a atenção de investidores e usuários.

Mas a pandemia acelerou tudo e a ferramenta foi autorizada pelos órgãos competentes, entre eles o Conselho Federal de Medicina e o próprio governo federal. Publicada em fevereiro de 2019, a Resolução 2.227/18 aprovava a realização de consultas entre médico e paciente a distância. Entretanto, a norma causou polêmica e respostas de várias entidades médicas, que desejavam contribuir com seu conteúdo. No fim, a medida acabou sendo revogada. Contudo, após a OMS (Organização Mundial da Saúde) ter declarado estado de pandemia devido à rápida disseminação do coronavírus, o Conselho Federal de Medicina (CFM) regulamentou provisoriamente o uso da telemedicina no Brasil. A decisão, tomada com urgência a pedido do então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, foi um desfecho para a medida que estava sob análise há mais de um ano.

Doutor Luiz Fernando Rolim Sampaio, superintendente de Provimento Saúde na Seguros Unimed, afirma que há uma grande demanda para as seguradoras que atuam no ramo de Saúde. “Os desafios assistenciais são enormes e dependem fortemente do comportamento e das diretrizes do setor público. Estamos atuando muito próximos aos nossos clientes, desde março de 2020, especialmente os corporativos, facilitando o entendimento da pandemia e orientando quanto aos serviços disponíveis aos beneficiários”, garante. 

A Seguros Unimed estruturou um plano de enfrentamento à crise baseado em três eixos prioritários: saúde das pessoas – clientes e colaboradores; saúde do negócio – continuidade da operação e aceleração digital; e colaboração com a sociedade – ampliação de projetos sociais e ambientais

“Para proteger a saúde do nosso time, instalamos, em março de 2020, mais de 1,4 mil colaboradores diretos e indiretos em home office, em cerca de dez dias, garantindo a segurança das pessoas e a continuidade da nossa operação, em todo o país”, revela. “Apostamos na inovação digital como âncora da estratégia assistencial na pandemia. A Teleorientação Médica 24 horas, implementada no mês de março via aplicativo, permite que os clientes do ramo Saúde recebam orientações confiáveis, em caso de dúvidas ou mesmo sintomas da Covid-19, com segurança e sem precisar sair de casa. O serviço tem se mostrado bastante efetivo, minimizando a exposição ao risco das pessoas em ambientes hospitalares. Também disponibilizamos o agendamento de videoconsultas com médicos especialistas da rede credenciada, para casos não relacionados à Covid-19, incluindo psicologia”. 

Apesar dos impactos econômicos da pandemia, o setor encerrou 2020 com 47,5 milhões de beneficiários em todo o país. De acordo com a Nota de Acompanhamento de Beneficiários (NAB), do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), esse número não era ultrapassado desde o primeiro semestre de 2017. O total de vínculos avançou 1,2% em 12 meses, o que representa aproximadamente 555 mil novas vidas no período.

Residencial e o home office

Decisão forçosa por conta da pandemia, o home office, hoje, atingiu status de padrão para pelo menos 43% das empresas brasileiras. De acordo com pesquisas, o modelo garante aumento de produtividade e mais felicidade no trabalho. A tendência também tem impulsionado o seguro residencial.

O seguro residencial possui diversas coberturas no mercado, entre elas: incêndio, queda de raio, explosão, roubo ou furto de bens, danos elétricos, vendaval e granizo, quebra de vidros, desmoronamento, impacto de veículos ou queda de aeronave, danos a terceiros, mas também manutenção residencial, com os serviços de hidráulica e elétrica, o que pode ajudar em casos de imóveis alugados, inclusive.

Na pandemia, a solução se expandiu ainda mais devido ao home office, houve em muitas situações uma valorização da solução diante de uma maior utilização do bem. A demanda, inclusive, fez com que muitas companhias repensassem o produto para cuidar do usuário e muitos corretores passaram também a oferecer mais a solução, com o intuito que gerar mais oportunidades de negócios e proteção ao cliente. O usuário também demonstrou maior interesse, já que, estando mais tempo em casa, viu a necessidade de efetuar pequenas reformas, manutenção e garantir a segurança da  família dentro do lar. Foram incluídas coberturas como seguro para pets e assistência para bikes (no caso de bikes, há seguradoras que também se especializaram no ramo, como a Argo Seguros).

Na Sancor Seguros, a carteira cresceu no ano passado, com alta de 60% no segundo semestre, período em que o trabalho remoto foi consolidado. Esse aumento também refletiu no market share da Companhia. O ramo, que ocupava 0,3% do total, subiu para 0,5% com a novidade. 

O superintendente de operações de Auto, Vida e Residencial da Sancor, Thales Lemos, confirma a origem do aumento pela procura do seguro residencial e destaca os principais benefícios. “A adesão ao teletrabalho e o momento de crise aumentaram a busca por proteção de bens. Por isso, o produto residencial se enquadra perfeitamente, pois protege a residência de uma forma geral, incluindo os equipamentos do segurado usados para o trabalho, como computadores, principalmente de eventos que causam danos elétricos, como tensão na rede, e até mesmo relacionados às questões climáticas, como raios, tempestades e vendavais”, lembrou.

 Com a permanência deste sistema de trabalho, a seguradora mantém a expectativa de crescimento no portfólio, com, pelo menos, mais 10% de alta, já no início deste ano. “Para nós, o home office é algo que veio para ficar e a tendência é que as pessoas continuem procurando proteção para seus bens e equipamentos dentro de casa”, analisou.

Lemos ainda destaca outras vantagens do produto, que o deixam mais completo e atrativo. “A aquisição pode até ser motivada pelo trabalho, mas nosso residencial vai além, com pacotes de assistência acima da média. Um exemplo disso é a cobertura para atendimento aos animais de estimação, garantindo reembolso de consultas e cirurgias”, disse. Outro benefício é a facilidade de contratação: “os parceiros que usam o aplicativo, conseguem realizar a venda imediata e a apólice passa a valer em cinco minutos”.

O executivo adianta que está nos planos a elaboração de um produto híbrido, aliando as coberturas residencial e empresarial, para proteger equipamentos das empresas dentro da casa do colaborador, bem como outros benefícios necessários nessa transição.

Seguro na internet e na LGPD

Com o distanciamento social imposto pela pandemia, muitos setores deram saltos tecnológicos, e houve exponencial aumento do comércio eletrônico. O seguro contra riscos cibernéticos se consolidou neste cenário e sua importância foi reforçada com o advento da nova Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que pode levar a muitas empresas a serem punidas com pesadas multas por uso inadequado das informações das pessoas. A apólice de seguro de riscos cibernéticos (cyber risks) protege contra roubo e extravio de dados e é uma boa alternativa para as empresas se adequarem.

A diretora da Camillo Seguros, Cristina Camillo, revela que o produto tem sido bastante procurado na corretora. “O seguro cyber, como é conhecido, oferece proteção às empresas no que se refere à responsabilidade pelo vazamento de dados, bem como eventuais prejuízos financeiros de ataques cibernéticos, incluindo aqueles trazidos à tona pela nova legislação, como a necessidade de notificação e monitoramento em caso de vazamentos, e as tão temidas multas que poderão ser aplicadas às empresas”, explica.

Sendo um produto da linha de Responsabilidade Civil (RC), o seguro cyber cobre danos a terceiros decorrente do vazamento e perda de dados, seja ele por causa externa ou interna, mas pode oferecer também coberturas para a própria empresa, como custos de restauração dos dados e contratação de especialistas do ramo. As coberturas não são apenas para dados digitais, mas também cobrem os dados físicos, como estoque de arquivos.

“São várias as proteções desse seguro. Malware e ransomware (softwares maliciosos), que têm sido cada vez mais comuns, por exemplo, estão entre as exposições cobertas no seguro cyber. Além dessas ameaças externas, causas internas podem causar o vazamento ou comprometimento de dados, o que a nova legislação traz consigo diversas novas obrigações e consequentemente eventuais prejuízos financeiros”, aponta Cristina.

O risco cibernético está fora da maioria das demais apólices e, portanto, o seguro cyber é, de fato, o mais indicado para cobrir tal exposição. No entanto, algumas seguradoras que atuam em Responsabilidade Civil, tanto no D&O (directors and officers – seguro para diretores) como no E&O (seguro contra erros e omissões) podem oferecer extensões a alguma parte restrita do risco, mas não são todas.

O seguro cyber é importante a qualquer tipo de operação. O número de ataques hacker aumentou mais de 200% desde o início da pandemia e com a LGPD em vigor os clientes estão ainda mais preocupados. A cotação é feita através de um questionário junto às seguradoras que atuam neste ramo e a empresa que tiver um sistema gerenciador e protecional se beneficiará de melhores taxas para a contratação.

Eventos no novo normal

O segmento de eventos foi um dos mais prejudicados pela pandemia. Pela recomendação do isolamento social, muitos foram adiados ou cancelados, provocando um efeito em cadeia. No mercado de seguros de eventos, o impacto foi majoritariamente financeiro por conta do montante de sinistros pagos em virtude de cancelamentos de eventos e carência de receitas de prêmios para cobrir os prejuízos.

A ausência dos eventos presenciais, desde meados de março do ano passado, quando foi decretada a pandemia e a necessidade do isolamento social, já custou à economia brasileira aproximadamente R$ 200 bilhões em prejuízos em 2020, segundo levantamentos da AMPRO-Associação de Marketing Promocional. Só no Estado de São Paulo, estima-se uma queda de aproximadamente R$ 16,3 bilhões por mês, ou R$ 65 bilhões ao longo dos quatro meses, com oito milhões de empregos prejudicados. Em alguns casos, na realidade das pequenas e médias agências especializadas – maioria no país, as demissões chegaram a 100% dos colaboradores CLT.

Toda essa situação reflete diretamente no setor de seguros de eventos. De forma abrupta, todos os tipos de eventos que seriam realizados foram adiados ou cancelados, e nessa mudança de mercado os seguros tiveram de se ajustar à nova realidade. “O distanciamento social inviabilizou os eventos, e isso nos fez pensar de que forma poderíamos inovar, acompanhar os clientes e lançar novos produtos”, pontua Alexandro Sanxes, diretor Técnico da Berkley Brasil Seguros.

“Percebemos então a tendência dos artistas em realizar lives como forma de manter uma receita de patrocinadores, e que cada vez mais as apresentações iam se aprimorando: começaram com um microfone e um violão, depois surgiu o DJ Alok com show pirotécnico, as coisas ganharam uma nova dimensão. Ao mesmo tempo vimos surgir os eventos em cine drive in. Começamos a montar o produto em abril, iniciamos as vendas em junho e em julho a operação rodou bem. Depois do nosso lançamento algumas congêneres criaram essas coberturas, mas produto específico para live e para cine drive in somente a Berkley tem hoje”.

Os eventos híbridos abrem ainda espaço para profissionalização ou qualificação de profissionais em novas especialidades, como planejamento e design de eventos digitais. Esses eventos incluem técnicas diferentes, como as de TV, de digital, tanto na parte técnica quanto roteirização, direção artística, produção digital.

Os cenários ainda não permitem antever o desempenho do setor segurador neste exercício, mas o mercado acompanha as mudanças da sociedade e seus riscos, e deve continuar se destacando com estes e outros ramos.ES

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